
Crê-se e diz-se que o grau de civilização de um país é directamente proporcional à forma como trata os seus animais. Bem pequeno (e até já adulto) elegi como livro o "Bichos", do saudoso e místico Miguel Torga. Li-o com 8 anos, e foi uma agressão tão grande ou tão pequena à época que, ainda hoje, me recordo de excertos e passagens do conto. Esta obra prima de Torga retrata a vida e a morte de um número de animais, sempre em luta contra o homem ou contra Deus, criando assim um paralelo com os humanos e com as suas questões acerca da vida e da morte. Tudo isto para dizer que considero um animal uma criatura tão ou mais nobre que muito boa gente que por vezes sou forçado a conhecer.
Ora Portugal, como qualquer outro país onde prolifere o bandalho e a bandalheira, ainda é o atraso de vida que conhecemos em relação aos fiéis companheiros (nomeemos apenas o cão e o gato por motivos óbvios), não sendo, por vezes, muito mais do que um adereço, uma coisa gira, fashion e denunciadora de estatuto social. Não só falo no bimbalhão que sai com o "Rex"/"Átila"/"Nero" (são os nomes mais comuns) à rua, para ver e ser visto, como falo do azeiteiro que, em pleno nenhures numa estrada semi-abandonada do Alentejo, pára o carro, enxota o Snoopy ou o Tareco e arranca para o Algarve à cata de bifas, bifanas e couratos. Queiramos ou não, é assim que as coisas correm em Portugal. Apoios políticos ou da parte das autoridades, viste-os, pois é certo que não é um assunto popular (ainda se eles votassem...) e muito menos trará uma promoção (além disso, se o gato arranha a farda do "sôr agente", este é que tem que a pagar...). Quero dizer... poderia trazer uma promoção interna (interna como que dizendo interiormente, no peito de cada pessoa), mas parece-me que em termos profissionais e mesmo sociais em nada contribui ajudar um animal. Deixem-me expôr o meu caso pessoal: eu NÃO POSSO ter um ou mais animais por não ter uma casa minha, e porque já tive que entregar uma vez dois gatos aos cuidados de um canil, jurei que nunca mais teria um animal se não o pudesse manter. REPAREM: ENTREGUEI-OS AO CUIDADO DE UM CANIL, NÃO OS ENXOTEI! Assim, tomei conhecimento em particular de uma associação puramente devotada ao auxílio dos animais abandonados e por conseguinte em risco, sabendo eu que os vários responsáveis por esta iniciativa gastam quantias consideráveis do seu próprio dinheiro para "aguentar o forte", à espera de melhores dias. Tive a indicação que ultimamente mais e mais pessoas começaram a contribuir para com esta associação de que falo (e cujo logótipo e informações publico abaixo), o que é louvável e que demonstra alguma consciência cívica da nossa parte.
Esta associação aceita de bom grado rações animais, mantas, cobertores, camas, casotas e anti-parasitários. Também aceita dinheiro, e embora vá contra a minha natureza e princípios incentivar seja quem for a dar dinheiro por uma causa (graças aos esquemas que proliferam neste país), sei que posso meter a mão no fogo por esta associação.
O porquê desta minha acção é simples: acho que é errado comprar animais para andar a mostrar aos amigos e às miúdas, ainda mais quando existem dezenas de milhares de bichanos por este país fora, em canis, à espera que um dono os vá buscar. Lembro-me da história de Mozart que, caído em desgraça, foi acompanhado no seu enterro apenas por um único amigo: o seu cão Pimperl. Se eles não nos deixam para trás nem quando morremos, porque haveremos nós de os deixar enquanto vivos? Espero em Novembro poder vir a ser um orgulhoso dono de um dos imensos gatos que este projecto alberga. Até lá, espalho a mensagem.
