segunda-feira, 13 de junho de 2011

Convalescências do momento


Faz hoje 123 anos que um sujeitinho com mais sonhos que posses e mais mundo em si que o mundo inteiro veio ao mundo. Há dias atrás, em conversa com o meu filho devido a um feriado escolar, perguntei-lhe se ele sabia qual era o significado do feriado de 13 de Junho (confundi esta data com o 13 de Maio), e ele retorquiu-me que 13 de Junho não é feriado nacional, mas sim 13 de Maio. Hoje descobri que estava meio enganado, percebendo o porquê do meu meio erro: realmente não é feriado, mas certamente deveria ser.
  Se Pessoa fosse vivo, muito com certeza ficaria agradado com alguns acontecimentos: o Nobel de Saramago, a ascensão de José Luis Peixoto, a desenvoltura e sensibilidade de Pedro Tamen, etc... ; bom, claro que nem tudo seriam rosas: o veto a Saramago pela Santa Inquisição (Vulgo PSD, e pelas mãos do ordinário  ordinariamente conhecido como Sousa Lara), a massificação de maus escritores no espectro da Língua Portuguesa (Paulo Coelho, Margarida Rebelo Pinto, etc...) e, sem dúvida alguma, a promulgação do Acordo Ortográfico e a reacção inerte da (falta de) classe política em Portugal. Vejamos:

" Não tenho sentimento nenhum politico ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriotico. Minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente, Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.
Sim, porque a orthographia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-m'a do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha. "

Agora, basta pensar que quem a promulgou tem sérias dificuldades no que toca à Língua Portuguesa, como podemos verificar abaixo:


Assim, e porque a Língua Portuguesa é um incómodo, porque não confiná-la à condição de parente pobre da Língua Brasileira e subjugá-la compulsoriamente (sim, que não nos foi pedida a NÓS, PORTUGUESES, opinião acerca de) a interesses financeiros imorais e irresponsáveis? Debato diariamente esta decisão grotesca e torpe, e não o fiz propositadamente no dia 10 de Junho por não ter nada a celebrar, antes a carpir, e assim fiz 24 horas de silêncio, o meu requiem à extinta Língua Portuguesa.
  Se Pessoa fosse vivo, certamente exilar-se-ia em Lanzarote. Sempre seria a decisão mais lúcida.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Hipocrisia


Hoje falo de hipocrisia. Comecemos pela etimologia: provém do grego ὑποκρισία (HYPOKHRINESTHAI), e significa “representar um papel, fingir”, formado por HYPÓS (“abaixo”) e KRINEIN (“separar, escolher, peneirar”). A evolução do sentido foi de “separar gradualmente” para “responder”, como em “responder dentro de uma peça de teatro” ou, em última análise, “representar, fingir um papel”.
  Esta semana, como é habitual logo após ser declarado o vencedor das eleições legislativas, deu-se a "chuva oblíqua" do costume: várias mensagens de congratulação ao nosso futuro primeiro-ministro, mais e menos cínicas, mais e menos sinceras, da esquerda à direita, passando pelo estrangeiro. Ora, de todas as que tive oportunidade de captar, destaco certamente a que mais me fez sorrir... em tom amarelado: estou a falar das declarações de um dos maiores empresários (política e grandes empresários, como tão bem sabemos, têm-nos dado os resultados que temos visto ultimamente) portugueses, de seu nome... Belmiro de Azevedo.
  Grosso modo, o que o Homo-Sonae afirmou foi "nunca vi um político fazer tanta coisa errada em tão pouco tempo" (em alusão a José Sócrates), "o PSD tem todos os meios para governar" e "os políticos são inábeis e ditadores". Vindo de uma sumidade em ciências políticas, realmente é de me levar a pensar que... ah, mas espera: o Engº Belmiro de Azevedo NÃO É uma sumidade em ciências políticas, logo... terá tirado um mestrado de 15 dias, tipo Novas Oportunidades? Terá ido a Fátima e recebido uma luz divina, uma epifânia? Ou (e vou por este caminho) está agora a mostrar a Portugal que é o cobarde moral evolutivo padrão neste panorama desolado que é Portugal? Que lhe interessa falar de um assunto que pura e simplesmente não faz parte das suas competências quando, como bem sabemos, é possuidor de uma fortuna um tudo nada grotesca? Que perderia ele com isso, bem vistas as coisas? Depois, gosto de juntar alhos e bogalhos para ver se consigo fazer éclaires de chocolate: que sentido moral é este de dizer que Portugal não tem bons políticos quando, se ele se olhasse ao espelho, perceberia que nem bons políticos nem bons empresários? O sr. Engº Belmiro de Azevedo diz que o país precisa de uma mudança, de um governo sólido e de políticos que tenham sentido de Estado e que, acima de tudo, velem pelos interesses de Portugal. É nesta altura que eu misturo os bogalhos aos alhos: qualquer miúdo de 15 anos sabe que uma das formas que pode ajudar Portugal a sair desta grave depressão é (rufem os tambores, por favor)... CONSUMIR PRODUTOS PORTUGUESES. Consumir produtos portugueses faz crescer a economia de um país, pois CRIA-SE, PRODUZ-SE e, consequentemente, VENDE-SE, tanto cá como lá para fora. Tomemos dois exemplos simples: a empresa Ach. Brito é uma coqueluche em termos de produtos de higiene de alta gama no resto do Mundo, tendo clientes fiéis como o consagrado actor Nicholas Cage. Num ramo completamente distinto, temos a empresa Lacticínios das Marinhas, que é conhecida nos hotéis de 5 e 7 estrelas por esse mundo fora (e por cá também, em alguns hotéis muito requintados) por fabricarem uma das (senão mesmo a melhor) manteiga artesanal do mundo, bem como queijos ímpares. Estamos a falar de duas micro-empresas que possuem nichos de mercado, mas que, não obstante, PRODUZEM CÁ. E o importante é mesmo isso. Voltando ao sr. Engº e mui benemérito empregador dos 500 euros por mês: a Sonae importa todo o leite de marca branca (vulgo "Marca Continente") à França e à Alemanha, por... ser mais viável em termos económicos. A pergunta para 250.000 euros é: mais viável para quem? Certamente para a carteira dos portugueses, certamente para a Sonae... mas muito com certeza prejudicial à economia do país por termos que importar um bem essencial, e é de referir que Portugal é auto-suficiente na produção de Leite, mas importa leite ao estrangeiro, nomeadamente de Espanha, Alemanha, França e Polónia. Muito dos nosso agricultores não conseguem vender o Leite que produzem. Assim, e porque os produtores e distribuidores só pensam em "venha a nós", pois têm que "defender os seus interesses" (então a Sonae, no que toca a defender interesses, ui ui meus amigos...), relegam os interesses dos portugueses e de Portugal para segundo plano, fazendo com que a importação seja obrigatória, tornando-se assim em catalisadores da tal crise. Qualquer embalagem de leite tem, por decreto nacional (Decreto-Lei nº560/99 de 18 de Dezembro de 99, Alterado pelo DL nº 365/2007 ) o local da sua proveniência impresso na embalagem, tal como a imagem de baixo sugere:


 


Caso o produto não tenha uma destas denominações, será obrigatoriamente estrangeiro, ou importado. Se fica mais caro que o importado? Em alguns casos fica mais barato: o Grupo Auchan (Jumbo e Pão de Açúcar) vende leite português a 0,39 centimos/embalagem. Se tem o sabor do leite de marca branca do Continente? Não sei. Sei, sim, que o sabor amargo a crise continuará. Em parte, devido a alguns Engenheiros que não têm nada a perder. 

domingo, 5 de junho de 2011

Admirável mundo novo



 Admirável Mundo Novo (Brave New World, na versão original em Inglês) é um livro escrito por  Aldous Huxley e publicado em 1932, que narra um hipotético futuro onde as pessoas são pré-condicionadas biologicamente e condicionadas psicologicamente a viver em harmonia com as leis e regras sociais, dentro de uma sociedade organizada por castas. A sociedade desse futuro criado por Huxley não possui a ética religiosa e valores morais que regem a sociedade actual. Qualquer dúvida e insegurança dos cidadãos é dissipada com o consumo de uma droga sem efeitos colaterais aparentes, chamada "soma". As crianças têm educação sexual desde os mais tenros anos da vida. O conceito de família também não existe. Assim, o leitor é convidado a entrar num futuro bem próximo, sombrio, desmotivador e repleto de animosidade e indiferença.


É fácil constatar que, nos dias que correm, a obra máxima de Huxley cada vez mais se aproxima do profético: hoje já existem pessoas pré-condicionadas biologicamente, que são forçadas a viver em harmonia com as leis... mas, e se olharmos para Portugal, confirmamos que a obra só poderia ser visionária, pois não possuímos valores morais que rejam a sociedade actual, não existe o conceito de "regra social", consomem-se programas como "Perdidos na Tribo" e futebol e fait-divers e afins como se drogas fossem para anestesiar  e, cumulativamente, não existe sentido de "família". E, quando digo "família", refiro-me AOS PORTUGUESES, cada um irmão do outro. Sombrio, desmotivador, repleto de animosidade e indiferença... acima de tudo indiferença, senão vejamos:

Bateram-se recordes históricos de abstenção no dia de hoje, Domingo, 5 de Junho. 41,1%. Quero dizer... estamos quase a falar de metade da população portuguesa em território nacional. Curiosamente, não houve transmissão de nenhum Benfica-Porto, nenhum Benfica-Sporting e nem outro jogo qualquer que costuma chamar as massas, qual raio de hipnose barato e amador. Também sei que não se tratou de "Perdidos na tribo", visto que "isso" só é transmitido à noite. Ora!!! Era capaz de jurar que as pessoas não foram votar por... desinteresse! Mas depressa afastei a ideia, não há povo nenhum civilizado o suficiente que se furte ao imperativo acto que é votar, claro que n... nisto, lembrei-me que estava a falar dos portugueses, e aí fiquei sem argumentos.

Muito rapidamente, que ler é tão ou mais aborrecido que ir votar (Como se ler fizesse alguma diferença, tal como ir votar!): afinal, quem ganhou estas eleições? Ninguém, meus caros: nem PSD, nem PS, nem BE, nem PC, nem aquele outro partido que tem um sujeitinho qualquer marinheiro, nem NADA!!! Quero dizer, como podemos nomear um vencedor seja do que for quando metade das pessoas que devem votar... não o fazem? Assim, e quanto muito, fiquei a saber, desta vez, qual o partido que tem mais apoiantes, e pelos vistos o PSD lidera nesse sentido, agora não me venham dizer "os portugueses elegeram democraticamente este ou aquele partido". Assim reina a pobreza espiritual de terceira categoria em Portugal: se eu for votar, o meu voto não vai mudar nada. Assim pensaram METADE DOS PORTUGUESES! Na melhor das hipóteses, METADE DOS PORTUGUESES elegeu este ou aquele partido, mas... quem ganhou? Se quiserem, perguntem-me quem perdeu. Para essa pergunta tenho resposta.